segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Esú

“Exu não perguntava
Exu observava
Exu prestava atenção
Exu aprendeu tudo”
(PRANDI, 2002 p.40)

Graças à habilidade de observação e não de indagação, Exu foi capaz de aprender
tudo que era necessário para auxiliar Oxalá na modelagem dos homens.

“Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres. (PRANDI, 2002.
p. 40)

A ética do serviço, tão necessária e presente entre o povo de santo, encontra-se
também no mito, destacando seu aspecto de história exemplar na qual “Exu não tinha
riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão. Exu
vagabundeava pelo mundo sem paradeiro...” (PRANDI, 2002. p. 40)
Exu que nada possuía, encontra paradeiro na Casa de Oxalá, onde através de muita
observação e serviço é recompensado e torna-se o orixá mensageiro, dono das
encruzilhadas, guardião da porta da casa de Oxalá, como podemos observar:

Exu trabalhava demais e fez ali a sua casa,
ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa”.
“... Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
sem pagar alguma coisa a Exu”. (PRANDI, 2002. p. 41)

Outro exemplo, do mito enquanto ordenador de conduta social está no mito em que
Exu respeita o tabu e por isso é feito o decano dos orixás.

“Aquele que usa o ecodidé
Foi quem trouxe todos a mim.
Todos trouxeram oferendas
E ele não trouxe nada.
Ele respeitou o tabu
E não trouxe nada na cabeça.
Ele está certo.
Ele acatou o sinal de submissão”. (PRANDI, 2002. p.43)

A passagem acima chama a atenção para importância de se respeitar os tabus
estabelecidos. Exu obedece ao impedimento de não usar nada sobre a cabeça enquanto
utilizava o ecodidé, respeitando o euó. Dessa forma, é recompensado por Olodumare,
tornando-se seu mensageiro e o decano dos orixás, como mostra o fragmento a seguir:

“Doravante será meu mensageiro,
pois respeitou o euó
Tudo o que quiserem de mim,
que me seja mandado dizer por intermédio de Exu.
E então por isso, por sua missão,
que ele seja homenageado antes dos mais velhos,
porque ele é aquele que usou o ecodidé
e não levou carrego na cabeça
em sinal de respeito e submissão”. (PRANDI, 2002. p.43)

Através do mesmo mito podemos analisar a questão do respeito à senioridade, um
aspecto importante entre o povo de santo. Dentro desse, a idade de iniciação na religião
prevalece sobre a idade biológica. Sendo assim, o mais velho pode dever reverência aomais novo, _ 


“Exu era o mais jovem dos orixás. Exu assim devia reverência a todos eles,
sendo sempre o último a ser cumprimentado...” (PRANDI, 2002. p.42)

No mito, a senioridade almejada por Exu é garantida a partir da realização de um ebó
e pelo respeito ao tabu.

“Assim o mais novo dos orixás,
O que era saudado em último lugar,
Passou a ser o primeiro a receber os cumprimentos.
O mais novo foi feito o mais velho.
Exu é o mais velho, é o decano dos orixás”. (PRANDI, 2002. p. 43-44)



SANTOS, Nágila Oliveira dos. Mitos de Exu: entre ordenamento da estrutura e conduta
social e história exemplar. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev.
2010. Coluna Mitologia Africana. Disponível em:
<http://www.africaeafricanidades.com/documentos/
mitos_exu_ordenamento_conduta_historia_exemplar.pdf >. Acesso em: 26/Setembro/2011

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